


Por Luna Negra
sido retratadas no imaginário popular como mulheres velhas, feias e más. Para muitas pessoas, porém, essa é uma visão distorcida e estereotipada que jamais correspondeu à realidade, tendo sido resultado de séculos de repressão judaico-cristã, que promoveu a perseguição, tortura e execução de milhares de mulheres (e também de muitos homens) acusadas de bruxaria. iiiAs temidas bruxas medievais seriam, na verdade, simples mulheres camponesas, que por viverem em intenso contato com a natureza, eram conhecedoras das ervas medicinais, que podiam tanto curar como também matar. Conheciam as ervas abortivas e contraceptivas, o que as permitia exercerem livremente sua sexualidade, fato que por si só já era considerado crime e pecado. Possuiam uma cultura pré-cristã, e a crença em deusas e deuses pagãos, sendo por isso identificadas como hereges pelas autoridades eclesiásticas.
. ggCom o passar dos séculos, o surgimento das sociedades patriarcais impôs a necessidade de uma crença que assegurasse a dominação masculina. O culto da Deusa foi aos poucos sendo suprimido pelas religiões judaico-cristãs, que enfatizavam a existência de um único Deus masculino, e destinavam às mulheres um papel subalterno. A perseguição aos seguidores da Deusa começou lentamente, chegando ao ápice na idade média, quando a Igreja Cristã assumiu totalmente sua misoginia (aversão ao sexo feminino) levando-a ás ultimas conseqüências: a Inquisição. Estima-se que entre quinhentas mil e nove milhões de pessoas - das quais oitenta por cento eram mulheres - foram mortas nas fogueiras da Inquisição. As principais vítimas eram portadores de deficiências físicas ou mentais, homossexuais, artistas, livres-pensadores, parteiras e curandeiras, e todas as mulheres jovens e idosas que fossem independentes da autoridade masculina.
fffApós o fim das perseguições, no século XVIII, a chamada "era das luzes", a atitude para com a bruxaria basicamente se inverteu. O que antes era punido pela Igreja com tortura e morte passou a ser desacreditado pelo racionalismo científico emergente. Apenas no final do século XIX, com o nascimento da antropologia, é retomado o interesse pelo pensamento e praticas mágicas, considerados como a forma mais antiga de experiência espiritual da humanidade.
por outro lado, novas formas de pensamento e relacionamento com o mundo, tanto nos campos político e científico, como também nos campos culturais, artísticos e espirituais. ...Existem, entretanto, alguns princípios comuns às suas diferentes tradições culturais. São eles: a imanência, a ligação e a comunidade. Imanência significa que todo ser vivo da terra, que a natureza, a cultura e a vida em toda a sua diversidade são manifestações da Deusa, sendo portanto, sagrados. A ligação é a compreensão de que todos os seres do cosmo se inter-relacionam, vivendo em interação como parte de um único organismo vivo. A visão de comunidade significa que na bruxaria não se aspira à salvação individual, mas sim às transformações coletivas da cultura e da sociedade. A comunidade pagã integra não somente as pessoas, como também os animais, as plantas, o solo, as águas e o ar.
pagã, ou seja,ligada à terra, a bruxaria possui como prioridades a responsabilidade e o comprometimento com a natureza e todas as suas manifestações; e a necessidade de se construir novos modelos de cultura, não mais baseados em relações de poder, como atualmente é feito em nossa sociedade ocidental, cristã e patriarcal, onde há o domínio da economia sobre a natureza, do homem sobre a mulher, dos ricos sobre os pobres, e de Deus sobre a humanidade. A identidade de uma bruxa, portanto, não se constrói apenas através da realização de feitiços e rituais, nem do culto a deusas e deuses, mas sim através de um modo de vida alternativo e consciente, de uma filosofia pagã ativa que incentive formas radicalmente novas de pensamento e ação para a transformação da sociedade em que vivemos atualmente, pois para que ocorram mudanças sociais efetivas, os mitos e símbolos de nossa cultura devem ser transformados. BIBLIOGRAFIA:
BARROS, Maria Nazareth Alvim de. As Deusas, as Bruxas e a Igreja: Séculos de Perseguição. Rio de Janeiro. Rosa dos Tempos, 2001
EHRENREICH, Bárbara e ENGLISH, Deirdre. Witches, Midwives and Nurses: A History of Women Healers. New York. The Feminist Press/University of New York, 1973.
ELIADE, Mircea. História das Crenças e Idéias Religiosas. Rio de Janeiro. Zahar, 1978
FRAZÃO, Márcia. O Gozo das Feiticeiras. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 1999
FRAZER, Sir James George. La Rama Dorada-Magia y Religion. México. Fondo
de Cultura Económica, 1943
GINZBURG, Carlo. História Noturna: Decifrando o Sabá. São Paulo. Cia das
Letras, 1991
STARHAWK. A Dança Cósmica das Feiticeiras. Rio de Janeiro. Record - Nova Era, 2001

Texto e contexto
Potencial simbólico
Dança como linguagem
Multisensorialidade


A maioria dos povos indígenas Mbyá-Guarani vive em regiões litorâneas do sul e sudeste brasileiro. Suas práticas xamânicas expressam-se fundamentalmente através da música.
A arte indígena, da qual a música é parte fundamental, deve ser entendida como uma expressão formal que se relaciona com um conteúdo e um significado simbólico remetendo a referentes exteriores, tais como a organização social, mitos e rituais. Assim, as idéias e conceitos expressos musicalmente podem ser interpretados de acordo com o sistema cultural no qual se inserem. A arte indígena seria assim, um sistema de representações, que procura explicar como a sociedade pensa a si própria e o mundo que a rodeia, como também uma forma de identificação étnica entre indivíduo e grupo. A música Guarani consiste de ritmo (dado principalmente pelo tambor e chocalho) e melodia (tocada pelo violão e pela rabeca), sendo cantada em coro. É importante destacar o papel fundamental dos instrumentos musicais, considerados como seres vivos devido ao seu caráter invocatório, capaz de despertar a atenção dos deuses, fazendo com que eles, lá em sua morada, escutem os Guarani, e vejam o quanto eles estão alegres, cantando e dançando aqui na Terra, e sua habilidade de ensinar os cantos para os ouvintes. No contexto xamânico Guarani a música é sempre acompanhada da execução instrumental, pois não é somente a palavra que é valorizada nos rituais Guarani, mas também a musicalidade é fundamental ao se proferi-la e escutá-la.
As letras das músicas falam do caráter sagrado da
música e da dança, e do papel fundamental do ritual na manutenção da sociedade Guarani. Estão sempre presentes os temas da luta pela Terra, da organização social Guarani, dos criadores míticos Nãnderu e Nãndexy, dos deuses do Sol (Nãmandu, verdadeiro pai de tudo o que existe na Terra, pois sem ele nada poderia viver e crescer) e do Trovão (Tupã) e, principalmente, da busca da Terra Sem Males, o paraíso mítico Guarani, onde não há morte, existe comida em abundância e se vive de acordo com os antigos costumes. Sua localização a leste, além do Oceano (para rovai), influenciou as migrações Guarani em direção ao litoral, nos séculos XIX e XX.
Para atingir a Terra Sem Males (yvý marãey) os indivíduos devem libertar-se do peso físico, através das danças e cantos rituais, atingindo, assim, a leveza do corpo e da alma.
É através do ritual que os Guarani acreditam que lhes seja revelado o caminho para leste, a direção do Sol nascente, e esta é uma das razões pelas quais os rituais são sempre realizados voltados para o Sol.
O xamanismo pode ser considerado, portanto, como o principal núcleo de resistência indígena ao processo de aculturação, pois os traços essenciais da cultura Guarani constituem-se nos elementos dos discursos cosmológicos. Assim, devido a essa intima relação entre música, cosmologia e identidade étnica, as danças e cantos xamânicos são vistos como um meio de resgate da memória e expressão de resistência aos processos aculturativos que esse povo há muito tempo vêm sofrendo.
BIBLIOGRAFIA:
CHEROBIM, Mauro. Os índios Guarani do litoral do Estado de São Paulo: análise antropológica de uma situação de contato. São Paulo. FFLCH/USP, 1986.
MONTARDO, Deise Lucy Oliveira. Através do mbaraka: música e xamanismo Guarani.
2002.Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, FFLCH/USP, São Paulo.
NIMUENDAJU, Curt. As lendas de criação e destruição do mundo como fundamentos da religião dos Apapocuva-Guarani. São Paulo. Edusp, 1987.
RIBEIRO, Berta G. [org.]. Suma etnológica brasileira. vol.3 - Arte índia. Petrópolis. Vozes, 1986
SCHADEN, Egon. Aspectos fundamentais da cultura Guarani. São Paulo. EDUSP, 1974.
DISCO
Ñande Reko Arandu - Memória Viva Guarani.


...A música vista sob uma perspectiva antropológica, ou seja, em estreita conexão com outras formas de cultura expressiva, constitui o principal objeto de estudo da etnomusicologia. São de fundamental importância para esses estudos as relações entre som, imagem e movimento; a inserção da música nas diferentes atividades sociais, e os múltiplos significados decorrentes dessa interação.
.Segundo A. Merriam, um dos fundadores dos estudos etnomusicológicos, a música seria um meio de interação social, e o fazer musical um comportamento humano culturalmente apreendido que possibilita uma forma simbólica de comunicação entre indivíduo e grupo. Por isso ele entendia a etnomusicologia como o estudo da música na cultura, chegando depois a conclusão de que ela seria, na verdade o estudo da música como cultura, sendo o seu conceito de cultura entendido como o comportamento humano aprendido e acumulado". Uma das principais características da etnomusicologia é que seu objeto de estudo é a música viva, de tradição oral. Não só apenas o estudo da música, mas do ser humano que faz a música. A música é considerada, portanto, muito mais do que um mero fenômeno sonoro e acústico, sendo o aspecto sonoro apenas uma parte da música.
musical como um processo de significado social, capaz de gerar estruturas que vão além de seus aspectos meramente sonoros. A performance, com seus diferentes elementos (atores, interpretação, comunicação corporal, elementos acústicos, texto e enredo, significados lexicais, sintáticos e simbólicos) seria uma maneira de viver experiências em determinada sociedade. Assim, ao analisarmos a performance, identificamos paralelos entre as manifestações expressivas e as respectivas estruturas sociais, obtendo através da dramatização/representação musical, uma leitura das questões sociais. É através dela que podemos encontrar também a ritualização do sagrado, apreendendo assim a relação entre a música e as esferas mítica e espiritual. BIBLIOGRAFIA:
MENEZES BASTOS, Rafael José. A Festa da Jaguatirica: Uma partitura crítico-interpretativa.1990. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, FFLCH/USP, São Paulo.
OLIVEIRA PINTO, Tiago de. Som e Música. Questões de uma Antropologia Sonora. In: Revista de Antropologia vol. 44. São Paulo. FFLCH/USP, 2001.



..Nesse desafiante mundo do acaso, pessoas de lugares distantes se encontram compartilhando essas intensas surpresas, e aprendendo o poder do espaço místico da dança. Há uma consciência pulsante compartilhando compreensões arcaicas, revivendo tradições perdidas, particularmente tradições não-escritas, todas elas investidas de novas tecnologias. Nós estamos voltando a nos relacionar fora da linguagem escrita, enfraquecendo nossa dependência absoluta de encontrar significados apenas no mundo das palavras. Os emergentes feiticeiros da imaginação entendem o campo da conexão r-evolucionária, e sabem que essas experiências não são propriedades ou produções de uma só pessoa ou corporação, mas antes, são a manifestação de uma comunidade. O conhecimento está além do consumismo, do materialismo, do descontentamento, da alienação e da auto-destruição associados ao estilo de vida industrial. Nós estamos movendo uma energia juntos, como um só, ao invés de opor nossas forças. Cada um de nós é uma onda, expandindo-se continuamente, e aprendendo juntos como recriar maravilhosos mitos. ...Nossas acomodadas culturas industriais praticamente negaram o relacionamento direto com a terra, seus ciclos e estações, vendo cada vez menos razão nisso. Nossas experiências com o som, os psicodélicos e o ritual da dança inspiram a comunicação através do fluxo e refluxo dos ritmos da terra, e deixam que estes penetrem nossas emoções coletivas. Isso é um simples exercício diante do imenso "poder" da mente de um grupo.
desconhecido. Na música, oscilações entre "claro" e "escuro" mostram que os feiticeiros sônicos estão em sintonia com a universal jornada da vida - o ciclo de nascimento e morte. Esse é o rito de passagem que a cultura ocidental há muito esqueceu. Essa é a completa manifestação do ciclo de vida e morte e renascimento, e nós estamos criando e compartilhando isso juntos. Aprendendo as alegrias da divina contemplação, e compartilhando o tesão da consciência com os outros. Esse é um poderoso caminho para investigar o coração da escuridão, e nós devemos deixar ela florescer apaixonadamente! São os tabus e segredos que incentivam as "doenças" e o desequilíbrio.
interagir com a realidade básica é liberador e auto-expansivo. As transmissões sobrenaturais podem ser ativadas através de psicodélicos e da escuridão, intensidade e movimento, o que é freqüentemente proporcionado em alguns festivais. O techno não é uma cultura homogênea. Procure as festas apoiadas e povoadas por seus amigos freaks, e quando encontrá-las, procure as festas onde a maioria das pessoas esteja utilizando psicodélicos (não incluindo ecstasy) com a intenção de explorar esse método muito iluminador da magia extática. Essa troca de energia pode ser muito potente ao se projetar a manifestação da mente coletiva, e quanto mais preparadas as pessoas estiverem para vibrar, mais loucas e diversas serão as energias resultantes.Texto extraído do site erowid. Traduzido e adaptado por luna negra.



O universo é uma dança de energias, ritmos e harmonias, em constante transformação. Entrar em transe é mudar e expandir nossa percepção, romper com os limites de nossa mente socialmente condicionada. O transe significa a mudança da consciência pela vontade. Caracteriza-se por estados de consciência incomuns, que podem ser alcançados de diversas maneiras. Através de meditação, hipnose, ou expansão da percepção com ajuda de substâncias alucinógenas. Em todas as culturas podemos encontrar técnicas de transe, existindo uma variedade infinita de tais estados de realidade incomum. Nos cânticos rítmicos de um xamã, nos tambores africanos, nos festivais psicodélicos e raves, podemos esquecer o mundo sensorial, alcançamos a visão extática, assim como um sublime estado de encantamento, uma verdadeira visão astral.
Fragmento do livro The spiral dance, de starhawk
adaptado por luna negra

Fragmento do livro O Tao da Física de Fritjof Capra
...Eu estava sentado na praia, ao cair de uma tarde de verão, e observava o movimento das ondas, sentindo ao mesmo tempo o ritmo da respiração. Nesse momento, de súbito, apercebi-me intensamente do ambiente que me cercava: este se me afigurava como se participasse de uma gigantesca dança cósmica. Como físico, eu sabia que a areia, as rochas, a água e o ar a meu redor eram feitos de moléculas e átomos em vibração, e que tais moléculas e átomos, por seu turno, consistiam em partículas que interagiam entre si por meio da criação e da destruição de outras partículas. Sabia do mesmo modo que a atmosfera da Terra era permanentemente bombardeada por chuvas de "raios cósmicos", partículas de alta energia que sofriam múltiplas colisões à medida que penetravam na atmosfera. Tudo isso me era familiar em razão de minha pesquisa em física de alta energia; até aquele momento, porém, tudo isso me chegara apenas por intermédio de gráficos, diagramas e teorias matemáticas. Sentado na praia, senti que minhas experiências anteriores adquiriam vida. Assim, "vi" cascatas de energia cósmica, provenientes do espaço exterior, cascatas em que, com pulsações rítmicas, partículas eram criadas e destruídas. "Vi" os átomos dos elementos - bem como aqueles pertencentes à meu próprio corpo- participarem dessa dança cósmica de energia. Senti o seu ritmo e "ouvi" o seu som. Nesse momento compreendi que se tratava da Dança de Shiva, o deus dos dançarinos, adorado pelos hindus.






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